O cortisol e o Estresse

25/04/2021

O CORTISOL E O ESTRESSE

Um dos hormônios principais na manutenção da saúde é o cortisol, ele tem um papel central nos processos metabólicos, e tem sido correlacionado a um leque multi variado de comorbidades, que vão desde a depressão até a demência de Alzheimer. Chamado de (hormônio do estresse) deve responder adequadamente a todo tipo de estresse do hospedeiro.

O cortisol é produzido pela glândula adrenal, em resposta ao ACTH hipofisário e CRH hipotalâmico, formando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

Na vida moderna, devidos aos múltiplos e constantes estressores, além de deficiências nutracêuticas, ocorre a desregulação desse eixo, e consequente insuficiência adrenal.

Incialmente, se a adrenal consegue manter elevados os níveis circulantes de cortisol, em vista do estimulo constante, aparecem, com o tempo, sinais e sintomas de síndrome metabólica, que podem evoluir para diabetes, doenças cardíacas, câncer, entre outras patologias. Porém se ela não consegue acompanhar as demandas a insuficiência aparece, com fadiga extrema.

Conforme envelhecemos a capacidade de responder ao estresse reduz, levando ao rico e multivariado quadro clinico atribuído ao processo "normal" de envelhecimento. As doenças conhecidas como "próprias da velhice", que levam a uma redução importante da qualidade de vida, estaão diretamente relacionadas a desregulação do eixo HPA, sendo a manutenção do mesmo essencial ao envelhecimento saudável.

Vários fatores estão relacionados a dificuldade diagnóstica nesses pacientes pelos medicos assistentes, entre eles sintomas inespecíficos, sintomas que usualmente precedem os sinais, dificuldade em confiar nos exames laboratoriais, que por sua vez tem valores de referência que não levam em consideração as individualidades metabólicas e bioquímicas do indivíduo, e se baseiam em dados estatísticos. Usualmente mais de um sistema hormonal está envolvidos, com os mesmo sinais ou sintomas resultantes de diferentes distúrbios, dificultando o diagnostico.

As glândulas adrenais são a primeira parte do corpo a ser diretamente afetada pelo estresse.

O estado de estresse crônico, em sua fase mais avançada, ocorre devido à falência parcial da glândula adrenal, como o cortisol equilibra o sistema imunológico, na sua falta, a pessoa fica mais suscetível a inflamações, infecções, alergias, dermatites, dores musculares e articulares etc.

A Adrenal tem uma grande influência no metabolismo de todo o organismo. Ela secreta mais de 50 hormônios vitais para o equilíbrio metabólico, para produção de energia, controle nutricional, proteico, de gorduras e carboidratos e balanço Hidroeletrolítico. Os hormônios do córtex adrenal são sintetizados a partir do colesterol, e são compostos esteroides com ação sobre o metabolismo de proteínas, glicídios, lipídeos e minerais.

O cortisol inibe a utilização de glicose pela células e estimula o armazenamento de glicogênio, ao estimular a enzima glicogênio sintetase, causando hiperglicemia. O cortisol também causa aumento do catabolismo proteico. O anabolismo proteico é inibido, com depressão de crescimento. Baixos níveis de cortisol no fígado tem como efeito aumento da síntese proteica e redução da lise, com elevação da concentração de proteínas plasmáticas.

No metabolismo dos lipídios o cortisol estimula lipólise, facilitando a ação dos hormônios ativadores da lipase, como glucagon, adrenalina e o GH, o que resulta da gliconeogênese.

O cortisol tem efeito anti inflamatório e anti alérgico. O mecanismo da ação anti inflamatória envolve a redução da hiperemia, da resposta celular, da migração de neutrófilos e macrófagos ao lugar da inflamação, da exudação, da formação de fibroblastos e da liberação de histamina.

Conexão cortisol - DHEA - tireoide

Como dito anteriormente, múltiplos sistemas hormonais estão interligados e podem ter sinais e sintomas semelhantes. Devido ao papel central da hipófise no eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, pela secreção de TSH, há uma ligação direta entre a função adrenal e da tireoide.

Os receptores tireoidianos nos tecidos alvos são menos responsíveis aos hormônios da tireoide, quando ha alteração do nível de cortisol, levando a resistência funcional e sintomas de hipotireoidismo, com níveis de TSH e T4 normais, com elevados níveis de T3Reverso. Estima-se que 80% das pessoas com desregulação grave do eixo HPA, tem ou terão alterações tireoidianas

O TSH também necessita de níveis fisiológicos de cortisol para ser secretado e por isso se recomenda que pacientes com diagnostico de hipotireoidismo, a função adrenal deve ser avaliada e tratada primeiramente.

Os sinais e sintomas de hipotireoidismo subclínico e desregulação do eixo HPA são semelhantes, como descrito na tabela a seguir:

CARACTERÍSTICAS DA DESREGULAÇÃO DO EIXO HPA


Na primeira fase há uma reação imediata do organismo ao estresse levando a níveis elevados de adrenalina, Noradrenalina, DHEA e insulina, além de níveis supra fisiológicos de cortisol. É um estado de maior excitação e atenção, os padrões de sono podem ser alterados e o indivíduo pode sentir um cansaço intermitente.

Outras características incluem:

  1. Diminuição da utilização de glicose
  2. Aumentados níveis de glicemia
  3. Redução da síntese de proteínas
  4. Aumento da quebra de proteína muscular, levando a sarcopenia
  5. Desmineralização ossea, levando a osteopenia ou osteoporose
  6. Redução dos processos de cicatrização e reparo
  7. Atrofia do tecido linfático
  8. Diminuição dramaticidade e numero de linfócitos
  9. Imunossupressão com aumento da susceptibilidade a alergias, infecções e doenças degenerativas

Numa segunda fase os níveis de DHEA e outros hormônios sexuais podem começar a cair, nesse estágio a pessoa começa a sentir os efeitos do excesso de esforço da suas adrenais, com sentimento de estar "inquieto, mas cansado".

Na terceira fase os níveis do DHEA e dos hormônios sexuais continuam a cair, o individuo ainda é capaz de funcionar de forma normal, porém os sintomas incluem cansaço, falta de entusiasmo, infecções regulares e o menor impulso sexual. Essa fase pode durar vários meses ou até anos.

A fase seguinte é chamada de burnout, aparece após o esgotamento do organismo. A produção dos hormônios do estresse e os níveis de cortisol, caem vertiginosamente. Os níveis dos hormônios sexuais e do estresse estão baixos, e o individuo pode sofrer de cansaço extremo, falta de desejo sexual, irritabilidade, depressão, ansiedade, perda de peso, apatia e desinteresse pelo mundo ao seu redor.

A recuperação dessa fase da desregulação do eixo HPA requer um tempo significativo, paciência e muitas vezes mudança completa no estilo de vida.

A depleção do equilíbrio fisiológico adrenal, compromete de forma severa a homeostase e acelera de forma intensa todos os processos de envelhecimento. Existem padrões variáveis de colapso e de recuperação, o indivíduo geralmente permanece um pouco funcional e a fadiga adrenal está frequentemente relacionada a outras condições clínicas, mas a recuperação é possível.

A evidência mostra que o cortisol é essencial não só para os portadores de estado de queda intensa, como também para manutenção do equilíbrio físico e mental dos adultos que estão envelhecendo. A suplementação de cortisol tem efeitos sinérgicos fisiológicos com outros hormônios, tais como hormônios esteroides, tireoidianos, dentre outros.

Fatores estressantes estão relacionados ao envelhecimento precoce, são eles:

  1. Má qualidade de sono;
  2. Libação alcoólica, uso de álcool, uso ou ingestão de drogas
  3. Aumento do uso de medicamentos;
  4. Doenças em entes queridos;
  5. Aumento da incidência de doenças crônicas;
  6. Isolamento;
  7. Solidão;
  8. Problemas financeiros;
  9. Redução da capacidade imunológica;
  10. Doenças auto imunes;
  11. Doenças infecciosas;
  12. Sobrecarga de informações do mundo moderno;
  13. Estresse: efeito cumulativo e aditivo;
  14. Estresse iatrogênico: cirurgia, quimioterapia, radiação, drogas.

Fatores desencadeantes na vida rotineira do paciente podem levar a desregulação do eixo HPA, e crônicamente gerar efeitos deletérios: longos períodos de estresse ou um evento estressante grave; como traumatismo; excesso de trabalho, com pouca folga ou relaxamento, por longos períodos; quadros de infecções respiratórias extensas ou severas (influenza, bronquite, pneumonia, tuberculose); participação intensa em esportes competitivos; sobrecarga mental exaustiva.

SINAIS E SINTOMAS MAIS COMUNS

Os hormônios produzidos pelas glândulas adrenais, particularmente o cortisol, desempenham um papel importante na regulação do sistema imunológico. Uma das funções do cortisol é reduzir a inflamação, mas se o nível deste estiver muito baixo ou muito alto pode haver infecções regulares, inflamação crônica, doenças autoimunes ou alergias. Tornando a manutenção dos níveis de cortisol uma parte importante de "manter-se saudável ".

Seus níveis dependem de qual fase a doença atingiu. Inicialmente os níveis se encontram elevados, junto com a adrenalina e noradrenalina. Isso leva a uma supressão do sistema imunológico e redução da inflamação, deixando o organismo vulnerável a doenças.

Num segundo momento ele começa a cair e em níveis sub ótimos e rompe-se completamente a válvula de segurança do sistema imunológico.

Nos últimos estágios, com a adrenal esgotada e incapaz de produzir hormônios, não ha prevenção para inflamações, levando a um excesso da ativação do sistema imunológico e consequentes processos inflamatórios, dor crônica e intolerância a dor. Com susceptibilidade a doenças autoimunes, transtornos de humor, atopia, síndrome de fadiga crônica, síndrome de dor crônica, obesidade, desequilíbrio da glicemia e fibromialgia

Sintomas mais comuns relacionados:

Existem muitos sinais e sintomas de insuficiência adrenal, mas não existe um indicador patognomônico único, possivelmente seu padrão único de fadiga:

  • Fadiga matinal mesmo com sono suficiente precisando de estimulantes como cafeína e as vezes sentindo-se totalmente acordado apenas após a refeição do meio-dia;
  • meio da manhã fica em baixa energia;
  • tarde baixa energia entre as 14 e as 17h00,
  • energia substancialmente melhorada após as 18h00;
  • segunda onda de energia renovada por volta das 23h e, se ainda estiver acordado, dura até umas 2h00 da manhã.
  • Muito mais renovado pela manhã se for capaz de dormir em cerca de 2h00 além do tempo normal, usualmente só se sentem acordados após as 10h da manha.
  • Melhora fase do sono entre 7 e 9 da manhã.
  • Pico de produção física e mental á noite ou de madrugada
  • Come exageradamente a tarde

Outros sintomas relacionados

  • Compulsão por café e bebidas estimulantes,
  • diminuição da resistência e energia, diminuição da produtividade,
  • Resiliência reduzida (leva mais tempo para se recuperar de doenças e do estresse),
  • almeja sal ou alimento salgados,
  • hipoglicemia e seus sintomas (especialmente sobre estresse),
  • diminuição da libido,
  • maior frequência e gravidade de doenças respiratórias; asma, alergias ou problemas respiratórios antes inexistentes
  • Desenvolvimento de alergias antes inexistentes
  • Diarreia ou constipação após situações de estresse
  • maior dificuldade para focar, consertar, lembrar, baixo poder de concentração
  • maior irritabilidade,
  • Perimenopausa ou TPM aumentadas,
  • depressão,
  • cansaço persistente que atrapalha a vida social, profissional e pratica de exercícios físicos,
  • desejo por alimentos sabidamente calóricos,
  • sistema imunológico enfraquecido
  • Olheiras
  • Tonturas
  • Cansaço extremo após exercício ou situação estressante
  • Dor nas articulações
  • Dor de cabeça crônica, dor lombar e outras dores que não melhoram
  • Cicatrização deficiente
  • Pressão arterial baixa
  • Ganho de peso em função do cansaço e da compulsão alimentar.

Diagnostico:

Testes hormonais podem ajudar no diagnóstico, mas as queixas clínicas são soberanas e de importância extrema para este. Não existe um teste laboratorial que indique especificamente a desregulação do eixo HPA, todos são complementares ao quadro clinico.

Quando realizada a pesquisa da origem da fadiga, deve se excluir outras possíveis patologias que possam ser a causa dessa, como o hipotireoidismo, a deficiência gonadal feminina, câncer em atividade, doenças auto imunes e infecciosas, anemia, déficit nutricional, Apnéia do sono, deficiência hormonal masculina, doença de Addison, doenças cardiovasculares, neurológicas e pulmonares.

Exames laboratoriais:

  1. Cortisol matinal (ate 8 hs da manhã)
  2. Cortisol das 16 hs

3. Hemograma

4.Níveis de sódio e potássio

5. T3, T4 e TSH

TRATAMENTO

Por mais incapacitante que possa ser a desregulação do eixo HPA, o tratamento correto quase sempre é bem sucedido. Aspectos dessa terapia incluem modificação do estilo de vida, técnicas de controle do estresse , ajustes da dieta e suplementação nutricional.

Para controle do estresse:

  1. Procurar maneiras de diminuir a carga de estresse mental, emocional e físico;
  2. Minimizar os compromissos e as tensões;
  3. Criar um mínimo de duas horas de tempo livre todos os dias;
  4. Eliminar ou minimizar estressores emocionais;
  5. Dormir bem, sempre que possível;
  6. minimizar ou eliminar ladrões de energia (pessoas que drenam o paciente);
  7. Rir o máximo possível. Lembre-se que o riso é parassimpático, e como tal, induz automaticamente o relaxamento;
  8. Sessões terapêuticas regulares (massagem, reiki, acupuntura, aromaterapia, cromoterapia, etc);
  9. Exercitar-se moderadamente diariamente.

A alimentação deve ser o mais saudável possível, eliminando os alimentos anti-inflamatórios e desorganizadores do metabolismo.

Algumas vitaminas e minerais são necessárias em maior quantidade para as células suprarrenais estressadas, como:

  1. Complexo de vitaminas B: niacina (B3), piroxilina (B6), ácido pantotênico etc. - facilitam as reações enzimáticas necessárias a recuperação da fadiga adrenal
  2. Vitamina C: evita irritações no estômago e atenua a tendencia acidez da insuficiência adrenal;
  3. Magnésio (citrato) : antes de dormir pra promover o sono e relaxamento
  4. Vitamina E: antixoxidantes e auxiliares digestivos

Condutas de tratamento:

Fase aguda: Cortisol elevado em indivíduos sintomáticos:

Mudança de estilo de vida (moduladores da atividade parassimpática):

  • Terapia do riso
  • Meditação e relaxamento
  • Atividade física regular
  • Siesta

Tratamento comportamental

  • Restringir alimento refinados como pão, arroz e massas brancas;
  • Evitar alimentos de alto índice glicêmico;
  • Café e bebidas estimulantes, assim como açúcar, são desaconselhados;
  • Não comer carboidratos ao acordar se estiver em fadiga crônica;
  • Acordar e dormir sempre nos mesmos horários;
  • Preferencialmente, acordar com a luza solar, não com um despertador;
  • Tentar estar na maior parte do tempo, durante o dia, em ambientes calmos e claros, e usar a noite para descansar;
  • Não realizar trabalhos que demandem muita atividade mental no período noturno;
  • Não dormir mais que 20min ao longo do dia;
  • Técnicas de relaxamento como yoga, meditação e acupuntura;

Alimentação:

  • Evitar cafeina
  • Evitar gorduras hidrogenadas
  • Evitar junk food
  • Dieta geneticamente correta

Tratamento medicamentoso:

Consiste em vitaminas e nutracêuticos para o suporte adrenal, alem de fitoterápicos que levem ao relaxamento e suporte adrenal

Fase avançada: cortisol reduzido

Modulação hormonal, ajustada de acordo com o paciente

  1. DHEA
  2. Pregnenolona
  3. Estradiol
  4. Progesterona
  5. Testosterona
  6. Melatonina
  7. Cortisol

COMENTÁRIOS FINAIS:

As alterações hormonais relacionadas a idade, como as modificações de secreção de cortisol, podem desempenhar um papel na fisiopatologia das alterações degenerativas do envelhecimento precoce.

Os distúrbios da tireoide baixa ou alta, e a insuficiência adrenal, passam, muitas vezes, desapercebidos na medicina clínica. A fadiga é frequentemente a queixa relatada pelo paciente em ambas as disfunções.

Existe uma relação funcional íntima entre as glândulas supra renais e a tireoide. E a hipoatividade adrenal é um dos principais fatores contribuintes para o surgimento da queda na produção da tireoide.

Por isso recomenda-se que sempre que se a tireoide baixa for descoberta, deve-se investigar a função adrenal, antes de iniciar o tratamento com hormônio tireoidiano. Se a função adrenal estiver diminuída a recomendação é iniciar com o tratamento das glândulas suprarrenais, antes de tratar a tireoide.

Quanto mais completamente a fisiologia e bioquímica do paciente forem abordados mais profundo e eficaz será o tratamento.

Referência:

Fisiologia clinica e hormonal, volume II, 1a edição, 2020, Italo Rachid; capitulo 5 págs 169 -210